05 de Março - 7 min de leitura
O texto dissertativo, muito usado em provas de vestibulares, consiste em um gênero discursivo que reúne argumentos a partir de referências socioculturais informativas em defesa de um ponto de vista. Embora seus critérios corretivos/avaliativos possam variar de acordo com as exigências de cada universidade, sua funcionalidade, em geral, propõe-se a levar a opinião do autor. ENEM, FUVEST, UNESP, UNICAMP, UFSC e UDESC são alguns dos vestibulares que cobram dissertações.
A temática, sugerida pela Studos, em parceria com o professor Everaldo Radlinski, sobre os significados da rotina no pulsar da vida humana se faz pertinente no contexto atual. Portanto, optamos por incutir uma reflexão acerca do cotidiano e seus costumes, relacionando-os à pandemia e ao “novo normal”.
No texto 1, o leitor encontra a ideia de normalidade, de tal modo que este dito “normal” o leva a questionar os padrões pré-estabelecidos. Embora a rotina organize a vida e dê estabilidade a ela, também sujeita o ser humano à apatia e/ou ao comodismo. Nesse sentido, a autora vincula o cotidiano a uma noção de sobrevivência, isto é, uma conduta conformativa aos modelos sociais vigentes, mas ligeiramente desgastante!
Já o texto 2 delineia os conceitos de trabalho e monotonia, difundindo mais uma vez a noção de sobrevivência. Ressalta-se, aqui, a divergência entre viver e sobreviver; enquanto o primeiro verbo enaltece o aproveitamento da vida em todas as suas nuances, o segundo carrega o sentido de, pura e simplesmente, manter-se vivo. Outrossim, é válido salientar que nem sempre se possui controle sobre essa rotina, uma vez que se vive em sociedade e há uma influência direta de terceiros na vida do indivíduo.
O texto 3, por sua vez, trabalha com elementos icônicos e com o campo imagético. A mensagem que a imagem transmite revela o caráter letárgico e, ao mesmo tempo, paradoxal. Ao passo que as pessoas acreditam no anúncio de normalidade estagnada, como se estivessem no estado de profunda inconsciência, próprio da letargia, os novos cenários de “normalidade” expropriam de seus direitos. Ademais, vislumbrar um avião passando com uma faixa já caracteriza um evento fora da realidade, o que torna a frase em si contraditória.
Por fim, no texto 4, é questionada a existência do contrato social pré-estabelecido que dita as regras da normalidade. Desse contexto de predefinição, pode-se refletir sobre o que seria o “novo normal”, bem como sobre o campo do futuro e sobre a vida pós-Covid. O excerto pode levantar, ainda, uma reflexão acerca do que era o “antigo normal”, permeado pelo consumismo desenfreado.
A crônica de Marina Colasanti suscita, sob um viés literário, uma discussão acerca dos hábitos que, de certa forma, organizam a vida e permeiam o cotidiano. Em contrapartida, o excerto sequencial, retirado do site Sociologia Líquida, leva o leitor, por meio de uma reportagem, ao questionamento por sobre a sociedade de consumo com seus pormenores. Já a charge de André Dahmer apresenta um cenário distópico por meio de um discurso publicitário, cível e trivial. E, por último, há uma reportagem que elucida a crítica contida na imagem.
Além da proposta e dos textos motivadores, este material abrange diversos exemplos de referencial sociocultural-informativo para dar suporte às produções textuais que serão feitas a partir dele. Os textos motivadores escolhidos dão abertura para que o aluno aborde a rotina enquanto comportamento, ou a rotina num contexto de pandemia. Salienta-se a importância de ler o material na íntegra e exercitar a escrita ao final.
Plus ao quadrado:
Comando: os significados da rotina no pulsar da vida humana
significados rotina no pulsar da vida humana
sentidos dos hábitos sentir humana
alcances do rotineiro devir do homem
as acepções do repetitivo experienciar humanal
o entendimento da rotina pulsar dos homens
Arranjos possíveis a partir da chuva de ideias:
TEMA (eixo central do texto):
Os sentidos do rotineiro pulsar dos homens
RETOMADA DO TEMA (eixo central do texto):
O entendimento da rotina no pulsar humano
Quatro tópicos frasais possíveis a partir dos textos motivadores:
1.ª … escancara(m) a premência da ressignificação das relações.
2.ª … acentua(m) o enfrentamento ao marasmo das sobrevivências.
3.ª … absorve(m) o normal sem pensar na névoa cultural da letargia.
4.ª … conflita a vida ante seu desafio de reinventar-se.
Considere os excertos e as imagens abaixo, reflita e redija uma dissertação sobre os significados da rotina no pulsar da vida humana.
Texto 1
[…] A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
[…] A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
“Eu sei, mas não devia.” Marina Colasanti
Texto 2
Rotina e Monotonia
Como enfrentar e caminhar através dos dias
Sempre acabo perdendo o que eu realmente quero fazer quando me preocupo com o que eu possa estar perdendo por não fazer outra coisa, sabe?
Eu suspeito que isso é algo que muitos fazemos – esforçamo-nos para fazer coisas que não achamos atraentes porque achamos que deveríamos. Eu entendo que, às vezes, precisamos fazer coisas de que não gostamos se elas forem parte de um processo maior com o qual nos comprometemos — como uma necessária rotina de trabalho.
[Adaptado] https://sociologialiquida.com.br/thiago-queiroz-5-dicas-para-fugir-da-monotonia-e-enfrentar-rotina/
Texto 3
Malvados. André Dahmer, 2020.
Texto 4
[…] Não tem como existir um único normal. Logo, não existe um novo (único) normal. Afinal o que é normal para mim pode não ser normal para você, e vice-versa. Além disso, quem disse que o antigo normal era “normal?!
Da mesma forma, não vai existir uma única vida pós-covid, único novo futuro, já que existem diversos presentes. Não vai existir um (único) novo comportamento de consumo, porque existem diversos tipos de consumidor – tem pessoas que vão sair comprando loucamente e pessoas que vão passar a comprar menos (porque não querem, porque estão desempregadas, ou porque não tem dinheiro, porque morreram…). E hoje não temos como saber.
Referencial sociocultural-informativo – Método Radlinski
Argumento por fato exemplo
Argumento por fato exemplo
Argumento por raciocínio lógico e por fato exemplo
https://istoe.com.br/a-rotina-na-pandemia/
Argumento por autoridade
Home office foi adotado por 46% das empresas durante a pandemia
Segundo pesquisa, 67% tiveram dificuldades no início do teletrabalho
O trabalho em casa foi estratégia adotada por 46% das empresas durante a pandemia, segundo a Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise covid-19. O estudo elaborado pela Fundação Instituto de Administração (FIA) coletou, em abril, dados de 139 pequenas, médias e grandes empresas que atuam em todo o Brasil.
Argumento por autoridade
Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito.
Aristóteles
Argumento por ilustração
Desconfiai do mais trivial,
na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito
como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar.
Antologia Poética, Bertolt Brecht
Argumento por ilustração
Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui.
Clarice Lispector
Argumento por ilustração
Condenamos a rotina. Culpamos a rotina. Apedrejamos a rotina. Mas a rotina é para ser o que mais amamos, a ponto de nunca cansarmos de repetir.
Fabrício Carpinejar, poeta e cronista
Argumento por ilustração
A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou – eu não aceito.
Não aguento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.
Manoel de Barros
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